Tudo começou em Bauru…

Nasci em Bauru no dia 11 de março de 1963. Meu pai, “seu Vergílio”, era servente de serviços gerais do Instituto Brasileiro do Café. Minha mãe, “dona Zuleika”, era escriturária da Rede Ferroviária Federal. Morávamos em uma casa de madeira no Jardim Bela Vista. A casa era simples, a rua não tinha calçamento, eu era um dos garotos de periferia que corriam descalços pela vila e eu era feliz. Vivíamos em um ambiente familiar de muito amor e compreensão. Tenho dois irmãos mais velhos: Luiz Carlos e Rosa Maria. Hoje, os dois são como pais para mim.

Meu sonho: queria ser piloto e, quem sabe, um dia, alcançar o espaço.

Com esse sonho, todos os finais de semana eu ia de bicicleta ao aeroclube da cidade para ficar “mais perto” dos aviões, e dos meus sonhos. Como não tinha dinheiro para pagar pelas caras horas de voo, os pilotos do local me aconselharam a entrar para a Força Aérea. Lá eu poderia ser piloto e ter uma carreira militar.

Contudo, eu precisava também garantir o meu futuro, obtendo alguma qualificação profissional, caso os planos de entrar para a FAB não funcionassem. Uma coisa interessante a ressaltar nesse tipo de pensamento é o fato de que, desde criança, tenho esse padrão mental baseado em criar objetivos, planejar, incluindo riscos e alternativas para situações adversas e obstáculos, e depois manter o foco no objetivo até alcançá-lo. Acredito que isso tem a ver com a maneira como fui criado pelos meus pais. Disciplina, honestidade e determinação sempre foram valores constantemente enfatizados e exigidos do meu comportamento.

Assim, como sempre gostei de ciência e tecnologia, quando terminei o ensino fundamental, decidi fazer dois cursos técnicos, um de eletricista no SENAI e um de técnico em eletrônica, no Liceu Noroeste. O segundo era o chamado “segundo grau profissionalizante”, e a escola era privada. Era uma maneira inteligente de associar o ensino médio com uma formação profissional.

Na época, eu tinha 14 anos de idade e muita energia. O problema era que eu não tinha dinheiro para pagar a mensalidade da escola privada.

Como solução, e também para ajudar no orçamento de casa, consegui associar o curso do SENAI com um trabalho de aprendiz de eletricista na Rede Ferroviária Federal (RFFSA). Aquele foi meu primeiro emprego. E com carteira assinada e tudo. Pela manhã, eu estudava no SENAI, durante a tarde trabalhava na RFFSA e à noite estudava no Liceu. Ganhava meio salário mínimo. Era o suficiente para pagar pelo meu curso noturno, deixar um dinheiro em casa e ainda comprar alguma coisinha para mim.

Mas ainda havia o sonho de voar.

Eu não tinha nem tempo e nem dinheiro para fazer um cursinho preparatório para o vestibular da Academia da Força Aérea (AFA), e a prova era bastante difícil e concorrida. Solução: estudar nos momentos de folga do trabalho dentro das locomotivas e pedir ajuda aos professores do colégio nos assuntos que eu não entendesse. Lembre-se disso: quando você quer fazer, realmente, alguma coisa, você não pode procurar por desculpas, mas por soluções.

Em um daqueles dias, estudando no trabalho, meus amigos me perguntaram o porquê dos livros. Eu disse que faria o vestibular da AFA. Eles deram muitas gargalhadas e disseram: “Você! Piloto da Aeronáutica! Impossível! Isso é para filhos de ricos. Você é um ‘zé ninguém’ pretencioso que nunca conseguirá colocar os pés em um avião. Largue mão disso e vá cuidar da sua vidinha que ganhará muito mais. Você só irá ficar frustrado com isso!”

Aquilo me deixou muito chateado e desanimado. Naquele mesmo dia, eu estava jantando quando minha mãe chegou do trabalho e me perguntou a razão da minha aparência desanimada.  Contei sobre a conversa no trabalho e completei: “Talvez eles estejam corretos. Isso é um sonho impossível para mim…”

Ela me interrompeu: “Não existem sonhos impossíveis! Não dê ouvidos às palavras ruins das pessoas. Eles têm a vida deles e, no fundo, eles não se importam com o seu fracasso. Talvez o seu sucesso possa incomodá-los.”

Nesse instante ela olhou para mim séria e profundamente com seus olhos azuis e completou: “Você pode ser e fazer o que quiser na vida, desde que estude, trabalhe, persista e sempre faça mais do que esperam de você!”

Foi acreditando na dona Zuleika, e não nas palavras negativas dos meus “amigos” que fiz a prova da AFA e passei! Fui o segundo colocado no Brasil. O primeiro foi o De Lima, de Londrina. Começava ali minha carreira militar.

A CARREIRA MILITAR, OS PRIMEIROS VÔOS

Depois de 4 anos de curso como cadete aviador na AFA em Pirassununga, fui graduado como Aspirante Aviador e transferido para o 2º/5º Grupo de Aviação (Esquadrão Joker) na Base Aérea de Natal, onde, em um ano, completei a minha formação de Piloto de Caça (Ala da Aviação de Caça).

De Natal fui transferido para o 3º/10º Grupo de Aviação (Esquadrão Centauro), em Santa Maria, RS. Ali, durante quatro anos, eu casei, meu primeiro filho, Fábio, nasceu, e eu me tornei Instrutor e Líder de Esquadrilha da Aviação de Caça. A vida ficou tranquila. Meu sonho de voar havia se realizado. Eu era um piloto de combate da Força Aérea Brasileira!

Mas a vida é uma constante mudança. Não podemos nos deixar abater pelo medo de sair da zona de conforto. Na verdade, precisamos ter novos sonhos, novos objetivos e criar as mudanças nessa direção. Assim, pedi ao comandante do esquadrão para deixar a aviação de caça e fazer o vestibular para o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Ele estranhou, questionou, mas autorizou.

Estudei nas minhas horas vagas e prestei o vestibular. Quem já fez o vestibular do ITA sabe o que “estudar” significa.

A minha ideia não era sair definitivamente da aviação de caça, mas aumentar minha qualificação, agora com o curso de engenharia, para criar mais oportunidades profissionais (sim, oportunidades não caem do céu, são criadas por nós).

Meu objetivo era ser Piloto de Testes de aviões, e eu havia notado que, na época, a FAB tinha pilotos de testes e engenheiros de teste em “corpos separados”. Não havia nenhum “híbrido”, alguém que fosse, ao mesmo tempo, engenheiro e piloto de testes. Era uma oportunidade a ser criada, mas antes eu precisaria de 5 anos de trabalho com sucesso no ITA e depois mais um ano de curso na Divisão de Ensaios em Voos (IPEV) para juntar as duas coisas – minha experiência operacional como piloto de caça e o curso de engenharia – e me tornar o primeiro piloto de testes e engenheiro formado no Brasil.

Agora, esse era o objetivo. Então… Mãos à obra!

Estudei, prestei o vestibular, passei para a Engenharia Aeronáutica, completei o curso do ITA com sucesso, participei da seleção para piloto de testes da FAB, fui selecionado, fiz um ano de curso no IPEV e atingi o meu objetivo.

Foram 6 anos de trabalho para atingi-lo. Durante esse período, minha filha Ana Carolina nasceu e muitas outras coisas aconteceram, incluindo muitas críticas de pessoas que diziam: “Que absurdo! A Força Aérea gastou uma fortuna para formar esse sujeitinho como piloto de combate e, agora que ele é instrutor e líder de esquadrilha, ele abandona a caça para ser engenheiro. Só porque engenheiros sobem mais rápido na carreira! É um aproveitador.”

O que eu fiz sobre isso? Absolutamente nada. Para mim, críticos são pessoas frustradas, sem competência para realizar projetos pessoais, sem coragem para tentar e arriscar a falhar e sem determinação para lutar por seus sonhos. Então, o que resta a essas pobres criaturas? Sentar e criticar pessoas que realizam. Dos críticos, eu só tenho pena. Na verdade, eu já os perdoei há muito tempo.

No final das contas, ao me tornar um piloto de testes “híbrido” eu consegui ajudar no desenvolvimento de sistemas importantes para a FAB e para a Aviação de Caça, como mísseis, bombas e outros equipamentos. Além disso, abri um caminho que hoje é trilhado por muitos pilotos de caça. Atualmente, muitos dos pilotos de teste são também engenheiros, o que aumentou a qualidade e produtividade da Divisão para a Força Aérea.

Como piloto de testes, tive a oportunidade de voar praticamente todas as aeronaves da Força Aérea Brasileira. Além disso, voei diversas aeronaves de topo de linha nos meados da década de 1990, como os americanos F-15 Eagle, F-16 Falcon, F-18 Hornet e o russo MIG-29 Fulcrum.
Foram anos de muito trabalho e diversão também! Afinal, eu estava somando duas coisas que sempre adorei: voo e engenharia!

Nesse período, também aproveitei para fazer um mestrado no ITA em “Otimização de Trajetórias Orbitais”. Chances de ir ao espaço naquela época? Nenhuma! Mas lembre-se: NUNCA feche as portas para os seus sonhos!

Em 1996, fui selecionado pelo Alto Comando da Aeronáutica para outro mestrado na Califórnia, EUA. Agora em “Engenharia de Sistemas”. Eu teria 2 anos e meio para concluí-lo. Lembrei da minha mãe: “Sempre faça mais do que esperam de você!”. Conclui o mestrado em 18 meses e comecei o PhD na mesma área.

A CARREIRA CIVIL DE ASTRONAUTA
UM SONHO SE TORNA REALIDADE

Em 1998, recebi um e-mail do meu irmão dizendo que a Agência Espacial Brasileira (AEB) faria um concurso público para selecionar o primeiro astronauta brasileiro.

Acontece que o Brasil havia entrado no Programa da Estação Espacial Internacional (ISS) através da NASA e agora precisava selecionar um astronauta para integrar a turma de astronautas da NASA para a manutenção e operação da ISS.

Pelo acordo da participação do Brasil na ISS, assinado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 1997, o Brasil deveria produzir 6 partes da ISS na indústria nacional e fornecer um astronauta para o quadro de astronautas da NASA. Em troca, o país poderia utilizar os recursos científicos da ISS, que é um magnífico laboratório, para desenvolver remédios, novos materiais, etc.

Como o astronauta selecionado iria compor o quadro de astronautas da NASA no programa, a AEB teve que usar os procedimentos de seleção idênticos ao da NASA e os responsáveis pela seleção de astronautas americanos foram ao Brasil para o concurso. Ainda, logicamente a AEB fez o processo conforme a lei: abriu o processo de seleção oficialmente e publicou o concurso nos jornais das principais cidades.

Meu irmão viu isso no Jornal da Cidade de Bauru e me informou.

A seleção era aberta a todos que tivessem os requisitos. Portanto, eu podia participar! Pedi autorização à FAB e fiz minha inscrição. Era a minha chance de realizar meu sonho de ir ao espaço!

Depois de uma difícil seleção (os outros candidatos finalistas eram excelentes!), acabei sendo o escolhido.

No final do processo, o chefe de seleção me disse: “Marcos Pontes, você foi o escolhido para representar o Brasil na NASA, como candidato a astronauta, no Johnson Space Center, em Houston, junto aos outros 15 países participantes do programa da ISS. Você, se aceitar, poderá se tornar o primeiro astronauta da história do Brasil”.

Depois, ele me olhou seriamente e perguntou: “Pontes, o que estamos te entregando agora é uma mensagem a Garcia. Uma missão pelo país e para o país para levar a bandeira do Brasil ao espaço, pela primeira vez, nas mãos de um brasileiro. E isso vai exigir sacrifícios da sua parte e da sua família: primeiro, treinamento é 24 horas, 7 dias por semana. Você vai sacrificar o convívio com a sua família. Segundo, você é militar, correto?”

Respondi em posição militar: “Sim, senhor! sou piloto de testes da Força Aérea.
Ele continuou: “Já sonhou em ser brigadeiro, ou ministro da aeronáutica?”
Pensei: “Ele vai me promover!!!”
Respondi: “Claro! Sempre sonhei em ser brigadeiro e ministro, é claro!”
Ele disse: “Ao se tornar astronauta, talvez você nunca seja.”
Fiquei perplexo: “Por quê?”

Ele respondeu: “Bem, a AEB é uma organização civil, o Programa Espacial Brasileiro é civil e com fins pacíficos, a NASA é uma organização civil, a ISS não pode ter nenhum desenvolvimento militar e o Brasil é signatário do Acordo Internacional de Uso Pacífico do Espaço. Em outras palavras, existem astronautas que vem de diferentes carreiras militares e civis, mas A FUNÇÃO DE ASTRONAUTA é CIVIL! Aceitando este convite, você terá que deixar de exercer suas funções militares e dedicar-se exclusivamente à função civil de astronauta e, provavelmente, terá que sacrificar sua carreira militar no futuro.”

Aquilo me deu um frio na barriga, era como abandonar um porto seguro, pois minha carreira militar estava indo muito bem, e embarcar em um projeto que eu não tinha certeza que iria ter sucesso. Havia muitas variáveis a serem definidas ainda.

Ele continuou: “Além disso, você sabe que a atividade de astronauta envolve muitos riscos. Nós não queremos, obviamente, mas pode ser que, ao tentar realizar sua missão espacial, você tenha um acidente e, assim, sacrifique sua própria vida em prol do país. É importante que você e sua família estejam cientes disso.”

Finalmente, ele concluiu, sério: “Portanto, vou te perguntar, e apenas uma vez, – você aceita ou não esta missão pelo seu país?

A vida da gente é interessante. Temos decisões a tomar e, geralmente, pouco tempo e informação para ter plena certeza do caminho a tomar. O pior é que nossas decisões são exatamente as responsáveis diretas pelo nosso sucesso ou fracasso.


Pensei por uns 10 infinitos segundos. Imagens da minha farda e da minha família passaram em minha mente. Finalmente, lembrei da voz do meu pai me dizendo: “Marcos, seja você mesmo, sempre! Siga seu coração e trabalhe para transformar suas escolhas em decisões corretas.”

Respondi: “Sim, senhor! Eu aceito!”

A partir daquele momento, eu tinha apenas duas alternativas: passar pelo que fosse preciso, por qualquer sacrifício, e realizar a missão que eu havia aceitado; ou morrer tentando, literalmente. Determinação é necessária para realizar qualquer projeto na vida. Lembre-se disso!

A partir daquele momento, minha carreira militar, pelo menos no que se trata de funções militares, estava encerrada.

Assim segui para cá, Johnson Space Center, em Houston, Texas, e me apresentei, em Agosto de 1998 como parte da Turma 17 de Astronautas da NASA. Éramos em 32 “Candidatos à Astronauta”(ASCANS – como éramos chamados até concluir o curso): 26 americanos, 2 italianos, 1 francês, 1 alemão, 1 canadense e um brasileiro!

Grupo 17 de Astronautas (Os Pinguins) escolhidos pela NASA em 1998

Depois de dois anos de curso, em dezembro de 2000, finalmente recebi o “brevê de astronauta”. Agora eu era um astronauta profissional “Especialista de Missão”, que é um nome bonito para “Engenheiro de Voo”, aguardando escalação para meu primeiro voo espacial.

O chefe dos astronautas, Charlie Precourt, me entregou o “brevê” e disse: “Parabéns, Marcos! Você agora é oficialmente o Primeiro Astronauta Brasileiro! Aliás, não sei se você sabe, mas você é o Primeiro Astronauta Profissional de um país do Hemisfério Sul do Planeta Terra!”

Eu repliquei: “Isso não é correto! Tem o Carlos Noriega, que nasceu no Peru, o Andy, que nasceu na Austrália, o Frank da Argentina…”

Ele interrompeu: “Não! Todos esses nasceram em outros países, vieram para os Estados Unidos, tornaram-se cidadãos americanos e entraram na NASA como Astronautas AMERICANOS. Eles NUNCA vão voar com a bandeira dos seus países de nascimento apenas e NUNCA vão realizar missões definidas apenas por aqueles países. VOCÊ é o ÚNICO que é de um país do Hemisfério Sul, está a disposição e voa as missões com a Bandeira do seu país.”

Eu fiquei contente com a informação (principalmente a parte da Argentina… brincadeira)!

Patch do Grupo 17 de Astronautas (Os Pinguins)

Mas o objetivo na mente era: “ir ao espaço”. A questão era: quando?

E isso provou ser uma questão muito difícil de responder. Eu achava que voaria em 2001, levando a primeira parte construída pela indústria nacional (EMBRAER), o Express Pallet, para a ISS. Mas isso não aconteceu. As negociações entre AEB, INPE e EMBRAER provaram infrutíferas. A EMBRAER cobraria um preço acima do orçamento de 120 milhões de dólares que a AEB tinha disponível para pagar à indústria nacional pelas partes a serem construídas no país e qualificar nossas indústrias para exportar (com o selo NASA) para o bilionário mercado espacial internacional.

A história entre os anos de 2001 e 2005 é longa e cheia de detalhes políticos. Não vou relatá-la aqui. No meu livro “Missão Cumprida. A História Completa da Primeira Missão Espacial Brasileira”, que pode ser adquirido autografado através deste website, eu conto com detalhes tudo o que aconteceu. Vale a pena ler e conhecer em primeira mão, os bastidores dessa história.

Finalmente, em 2005, a AEB me escalou com os Russos, que são, como os americanos, parceiros majoritários da ISS.

Você poderia perguntar: “Por que com os Russos?”

Três razões: Primeiro, porque devido ao acidente com o ônibus Espacial Columbia, em 2003, os voos do lado americano estavam cancelados até o momento da decisão da AEB; Segundo, porque o Brasil não cumpriu a sua parte no acordo firmado em 1997 para participação na ISS e, portanto, além de quase ter sido expulso do programa, não tinha direito a realizar nada na ISS por conta do acordo com a NASA; Terceiro, porque havia interesses de parceria entre Brasil e Rússia em outros projetos do Programa Espacial.

Para mim, aquele acordo com a Rússia foi, ao mesmo tempo, uma notícia boa e uma grande preocupação. Finalmente, depois de praticamente perder as esperanças de voar pelo Brasil, eu teria minha chance de realizar o sonho de ir ao espaço. Contudo, sendo astronauta Especialista de Missão, eu sou um tipo de “mecânico de espaçonave”.

Minha principal tarefa no espaço é manter os sistemas funcionando plenamente, isto é, fazer operação e manutenção dos sistemas, montar e configurar equipamentos, etc. E eu entendia tudo dos sistemas dos ônibus espaciais e da ISS do lado americano e dos outros, mas quase nada do lado russo, pois eles tinham seus próprios “mecânicos” (Cosmonautas).

De repente, de acordo com a AEB, eu teria apenas 5 meses (o tempo normal para treinar um Cosmonauta é de 2 anos) para aprender tudo sobre os sistemas russos para inclui-los nas minhas tarefas técnicas a bordo e, de quebra, aprender a língua russa, em paralelo, nos primeiros 3 meses em Star City, Moscou, no Centro de Treinamento de Cosmonautas, para onde eu estava sendo transferido.
Assim começou a Missão Centenário.

A missão foi contratada e planejada pela AEB. Eu era o astronauta responsável em executá-la no espaço estritamente segundo as ordens da AEB. Basicamente, minhas funções prioritárias eram, nessa ordem:

Manutenção dos sistemas da ISS e do Soyuz
Realizar as pesquisas enviadas pelo Brasil
Realizar as pesquisas em andamento na ISS naquele momento (mais de 80)
Divulgar o programa espacial brasileiro

O meu backup era o Cosmonauta Sergei Volkov, que levaria a missão brasileira, caso eu tivesse algum problema na formação técnica nos sistemas russos, ou impedimento de saúde.
Pelo contrato firmado entre a AEB e a Rússia, a missão custaria 10 milhões de dólares pagos pelo Programa Espacial Brasileiro para a Agência Espacial Russa e o Brasil poderia enviar para o laboratório da ISS 10 pesquisas escolhidas pelo Brasil.

As pesquisas nacionais foram escolhidas pela AEB e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), que é o órgão máximo da ciência no Brasil, entre centenas de candidatos. Eram:

4 pesquisas tecnológicas (para desenvolver produtos de uso comercial)
Universidade Federal de Santa Catarina (2 pesquisas com Minitubos de Transferência de Calor)
Universidade Federal de Pernambuco (2 pesquisas com Sensores de Difusão utilizando Nanotecnologia)
4 pesquisas científicas (para desenvolver conhecimento)
EMBRAPA (Desenvolvimento de Plantas em Microgravidade)
Faculdade de Engenharia Industrial (Enzimas para Conservantes de Alimentos)
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Estudo de Recuperação de DNA para voos espaciais de longa duração)
Centro de Pesquisas Renato Archer (Interação de Nuvens de Proteína)
2 experimentos educacionais (para desenvolver “o futuro”)
Secretaria de Educação de São José dos Campos (2 experimentos com alunos do ensino fundamental)

A minha função como astronauta, obviamente não era escolher ou julgar as pesquisas escolhidas pela AEB e a ABC. Eu não tenho qualificação científica à altura da ABC para isso e teria que levar qualquer experimento determinado pela AEB. Contudo, fica aqui o meu registro de satisfação ao observar a qualidade dos experimentos nacionais e ao ver que as pesquisas nacionais foram tão elogiadas no exterior.

No Brasil, a imprensa e alguns “cientistas” (as aspas são para ressaltar o meu espanto com a falta de visão científica e estratégica desses críticos) se limitaram apenas a criticar o custo da missão e citar, muitas vezes de forma irônica, os experimentos das crianças de São José dos Campos. Até hoje fico em dúvida se fizeram isso porque não gostaram da escolha da ABC, ou porque, pro ignorância, não conseguiam entender as pesquisas mais complexas e resolveram falar apenas dos experimentos das crianças, que eram mais simples para compreender.

É interessante notar que esses mesmos “críticos” elogiaram, e muito, os mesmos experimentos educacionais quando realizados por uma astronauta chinesa para os estudantes chineses em 2013. Isso indica que a crítica “científica” aos experimentos educacionais escolhidos pela Academia Brasileira de Ciências em 2006, na missão Brasileira, tinham na verdade algumas razões ocultas muito mais obscuras e possíveis interesses pessoais envolvidos.

A esquerda o Astronauta Marcos Pontes, ao centro o Cosmonauta russo Pavel Vinogradov e a direita o astronauta norte-americano Jeffrey William.

Em todo caso, tive muito ORGULHO de trabalhar com os verdadeiros CIENTISTAS brasileiros e os professores de São José dos Campos que enviaram pesquisas e experimentos na minha missão.
No meu livro Missão Cumprida, fiz questão de incluir a descrição detalhada das pesquisas nacionais da missão, assim como entrevistas com os nossos pesquisadores e professores.

Sobre o custo da missão, que até hoje alguns mais ignorantes frequentemente levantam como argumento para criticar a decisão da AEB, também não tenho “qualificação administrativa” para julgar ou calcular o orçamento do programa espacial.

Como astronauta, minha função é basicamente restrita na área técnica-operacional (realizar missões espaciais e ajudar a desenvolver sistemas) e na área de educação-relações institucionais (motivar jovens para a educação e divulgar o programa). Não cabe a mim fazer qualquer negociação ou decidir a parte administrativa-financeira do programa. Basicamente, do meu ponto de vista estritamente funcional, eu teria que realizar a missão que custasse nada ou 1 trilhão de dólares. Assim como o funcionário de um banco que trabalha em um prédio de 100 milhões de dólares ou um piloto de caça voando uma aeronave de 30 milhões de dólares, não compete a mim cuidar dos contratos de compras, mas executar o meu trabalho da melhor maneira possível para os objetivos definidos pela organização.

Contudo, eu tenho conhecimento suficiente da área de tecnologia espacial e dos contratos internacionais firmados pelos países no programa da ISS. Na verdade o custo obtido pela AEB, pelo Dr. Raimundo Mussi, nas negociações naquela missão foi muito abaixo do normal. Para se ter uma ideia, todos os astronautas americanos hoje em dia, depois da parada dos ônibus espaciais, têm que “pegar carona” (é isso mesmo, os voos são chamados “taxi flights”) com o Soyuz russo para a ISS a um custo para a NASA de mais de 60 milhões por assento!

Além disso, basta procurar os dados reais de custos nos projetos do Programa Espacial Brasileiro e pesquisar os benefícios de cada um deles (incluindo imagem popular/política do programa para atrair mais orçamentos para outros projetos, motivação e formação de RH, resultados científicos, etc.) para ficar claro que o investimento de 10 milhões da Missão Centenário foi uma fração da maioria dos outros programas, como o programa CBERS, por exemplo, e com custo-benefício estratégico muito interessante. Isso são fatos disponíveis para todos que não querem “ficar na ignorância”.

Em todo caso, como falei anteriormente, não cabe a mim, como astronauta, discutir custos e administração. Quando eu realizar meu sonho de ser o Presidente da Agência Espacial Brasileira, essas assuntos serão da minha competência.

Depois do treinamento em Star City e decolar do Centro de Lançamento de Baikonur, no Cazaquistão, no dia 29 de Março de 2006, a bordo da Soyuz TMA-8 sobre um foguete Soyuz com 200 toneladas de combustível, concluí a Missão Centenário, com pleno sucesso, em 10 dias no espaço (2 a bordo da Soyuz e 8 na ISS).

Depois da missão, voltei às minhas atividades normais como astronauta em Houston.

Permaneço até hoje à disposição do Programa Espacial Brasileiro, aguardando a escalação para meu segundo voo espacial. A probabilidade dessa escalação é baixa. Principalmente levando-se em conta a precária situação do Programa Espacial Brasileiro que opera com recursos cada vez mais reduzidos e sem apoio público e político, visto a falta de conhecimento e preparo, especialmente no campo técnico e científico da maioria dos políticos eleitos no Brasil.

Reserva Militar e Continuidade da Função de Astronauta

Um fato marcante e polêmico logo depois do meu regresso da missão, em maio de 2006, foi a decisão do Comandante da Aeronáutica em me transferir para a reserva militar. Ele tomou essa decisão de forma acertada com base nos fatos:

Pelo regulamento militar, eu já estava no último posto possível e sem tem os requisitos para ser promovido ao posto de coronel. Ou seja, se ele não me transferisse em 2006, eu seria “demitido” assim que a próxima turma da AFA fosse promovida a Coronel.
Depois de 8 anos exclusivamente em funções civis de astronauta, eu não tinha experiência de comando militar e não tinha mais utilidade para a FAB em aplicações militares.
Devido às restrições do regulamento militar, eu sou mais útil para os interesses do Brasil e das Forças Armadas estando na Reserva militar.

Um erro que cometemos na ocasião foi não ter feito uma coletiva de imprensa para que o Comando explicasse essa transferência.

A imprensa mais inferior do país, mais interessada em vender polêmicas do que informar fatos ao público, aproveitou-se da minha imagem muito em “alta” logo depois do voo e distorceu a decisão do Comandante para ganhar dinheiro, publicando calúnias do tipo: “Astronauta aposenta-se logo depois da missão para ganhar dinheiro com palestras”.

A repercussão negativa das calúnias foi tão grande (como sempre) que até hoje existem alguns idiotas que acreditam e repetem essa bobagem!

Treinamento na Rússia

Do meu ponto de vista, a repercussão daquelas calúnias teve lados bons e ruins.
O lado ruim foi perceber como existem pessoas ruins no nosso país. Existem pessoas e organizações que não dão a mínima se vão prejudicar o País ou uma pessoa em prol de ter seu lucro garantido. Essa é sua única preocupação. Isso é triste.

Os lados bons daquelas calúnias, do ponto de vista pessoal, foram: primeiro, aquilo me ensinou e treinou para desenvolver MUITO mais resiliência para ocupar cargos e postos de maior importância e exposição pública; segundo, a notícia me deu uma nova profissão de palestrante e fez uma enorme propaganda gratuita para eu começar nessa nova carreira em paralelo com a função de astronauta, justamente quando eu mais precisava de recursos.

Ocorre que a minha transferência súbita para a reserva acabou me pegando desprevenido. Eu deveria ter imaginado que o Comandante faria aquilo depois da missão, mas, para falar a verdade, estava tão confortável na posição de oficial da ativa a serviço civil para a AEB e ocupado com o voo espacial que nem me passou pela cabeça a possibilidade. Com a transferência para a reserva, meu salario caiu para um terço do normal e eu não via como manter a família em Houston sem ser contratado pela AEB (que não poderia criar um cargo novo em ano de eleição, segundo fui informado na época). Quando as empresas souberam através das calúnias da imprensa que havia um profissional com experiência única internacional, em programas complexos, em gerenciamento de projetos, análise de riscos operacionais, etc., à disposição no mercado, imediatamente começaram a me procurar para palestras e cursos. Assim, eu resolvi meu problema de recursos na época e, ao mesmo tempo, ganhei uma nova atividade profissional que eu adoro: palestrante!

Já o Brasil teve apenas prejuízos com as calúnias da imprensa em 2006. Eu poderia ser muito mais aproveitado nos órgãos públicos do país, mas não fizeram, talvez acreditando que eu estava “aposentado” ou com medo das calúnias da imprensa.

Para uma descrição detalhada da minha transferência para a reserva e as calúnias da imprensa sobre o assunto, entre na página de “fofocas e polêmicas” neste website. Aliás, aproveite para divulgar os fatos desse assunto e tirar aqueles que ainda estão na escuridão da ignorância, enganados pelas mentiras da imprensa em 2006.

E se você está se perguntando se realmente eu me aposentei ou não, como a imprensa queria, leia o restante e tire suas conclusões.

Existe Vida Além do Espaco!


Depois de 2006, conforme o Comandante previa e sem as restrições do regulamento militar, minhas atividades profissionais no país e no exterior expandiram exponencialmente.

Meu foco, conforme decidi durante a missão espacial, olhando para a Terra, passaram a ser:

Promover a Educação no Brasil e no Mundo.
Desenvolver Ciência e Tecnologia, especialmente voltadas para o Desenvolvimento Sustentável.
Desenvolver o setor espacial.

Como não tive praticamente nenhum apoio dos órgãos públicos no Brasil para esses objetivos, tive que contar com o setor privado e com órgãos internacionais.

Em 2010, criei a Fundação Astronauta Marcos Pontes com o objetivo de desenvolver projetos nos dois primeiros objetivos apresentados acima. Você pode ver detalhes da Fundação e seus projetos neste website.

No programa espacial, resolvi ajudar na formação de recursos humanos para o programa. Observei que, até 2006, não havia nenhum curso público de engenharia aeroespacial. Assim, incentivei o ITA na criação do curso de Engenharia Espacial e depois, como pesquisador e professor convidado da Engenharia Aeronáutica na Universidade de São Paulo, no Campus de São Carlos, criei o currículo para a Engenharia Aeroespacial daquela escola de engenharia, que aguarda a burocracia para, um dia, entrar no vestibular daquela instituição. Hoje fico feliz em ver diversas outras escolas com o currículo aeroespacial sendo desenvolvido, como a Federal de Minas Gerais.

No contexto internacional, fui convidado e passei a atuar como Embaixador mundial da WordSkills Internacional para promover o ensino profissionalizante entre jovens de 52 países. Da mesma forma, sou Embaixador da ONU para o Desenvolvimento Industrial, criando e promovendo projetos de sustentabilidade em diversos países.



Em 2013, depois de muita frustração com o andamento de projetos de educação, ciência e tecnologia no Brasil, agravada por uma sensação de grande impotência perante tanta sujeira e corrupção na classe política, fatos que são uma desgraça e uma vergonha para o povo brasileiro, resolvi “entrar em combate” também no campo político e ajudar a mudar essa situação triste que existe hoje em dia no Brasil.
Obviamente, eu não tenho condições para sozinho mudar a situação. Seria muita ingenuidade pensar isso. Não existe “salvador da pátria”, e mesmo que existisse, eu não seria qualificado para isso. Porém, eu acredito que ninguém tem “moral” para criticar nada se não tentou fazer e realizar algo naquele campo. Portanto, em vez de apenas criticar, eu ofereço minha ajuda para tentar mudar alguma coisa para aqueles valores simples que meus pais me ensinaram desde a minha infância lá em Bauru. Assim, em 2013, me afiliei a um partido e pretendo ajudar a mudar, de dentro para fora, o comportamento político no Brasil. Isso não quer dizer que serei candidato, mas que ajudarei políticos de reais valores a desenvolverem seu trabalho pelo Brasil. Eventualmente, e se necessário, eu poderei ser candidato nas eleições de 2014. Mas isso ainda não está definido.

Uma das razões disso é a possibilidade do meu segundo voo espacial nos próximos anos, não com o setor público, que aparentemente vai demorar muito ainda para me escalar, mas com o setor privado, aceitando um dos convites que tenho para trabalhar em empresas internacionais participantes no recente mercado do turismo espacial. É um mercado enorme que está se abrindo e estará em grande alta nos próximos 5 anos. Existe real possibilidade de eu voltar ao espaço como tripulante (astronauta profissional) para levar turistas espaciais ao espaço e para fazer a montagem e manutenção dos novos sistemas no espaço.

Aliás, com o desenvolvimento do turismo espacial no horizonte, alguns me perguntam se alguém que embarque em um voo suborbital como passageiro será “o segundo astronauta brasileiro”. Na verdade não. Tecnicamente é como dizer que uma pessoa que embarca como passageiro na ponte-aérea Rio-São Paulo fosse considerado aeronauta, membro da tripulação profissional da empresa aérea como o comandante ou os comissários do voo. Para ser astronauta profissional, é necessário fazer o curso na NASA ou em Star City, com duração de 2 anos e ser declarado pela NASA ou Roscosmos como astronauta ou cosmonauta profissional. Assim, certamente nos próximos anos teremos alguns brasileiros turistas espaciais, mas o segundo astronauta brasileiro ainda deve demorar um pouco. Um dos meus sonhos é que esse segundo astronauta brasileiro (não turista espacial) seja um dos meus alunos(as). Quem sabe?!!

Marcos Pontes e Diretor Geral da UNIDO, Kandeh Yumkella

EMBAIXADOR DA ONU

“Astronaut chosen as Goodwill Ambassador for UN industrial development body”
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Em 2011, o ano em que fui nomeado como Embaixador da Boa Vontade da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), o sentimento foi de dupla responsabilidade e, é claro, de honra. Muitos podem se perguntar por que um astronauta se envolveria com uma organização focada no desenvolvimento industrial sustentável. Para esses, eu digo: você já viu o planeta Terra a partir do espaço? A visão é esclarecedora e faz você perceber que as fronteiras são invenções humanas. Precisamos atuar juntos para proteger este lar que compartilhamos.

Não é segredo para ninguém que vim de origens humildes, nascido e criado nos subúrbios de São Paulo. Conheço a dura realidade da falta de oportunidades e a importância crucial da educação e da formação técnica. Acredito que ninguém tem “moral” para falar sem agir. Então, ao invés de simplesmente apontar os problemas, resolvi me tornar parte da solução. Com a UNIDO, pude expandir essa minha abordagem para além da ciência e da tecnologia, entrando em áreas que, acreditem ou não, são tremendamente impactadas pela inovação e pelo conhecimento técnico.

O então Diretor-Geral da UNIDO, Kandeh Yumkella, fez uma observação interessante sobre como minha trajetória pessoal poderia inspirar as massas. Pois bem, se minha história pode servir como um catalisador para a mudança, que seja. Afinal, como disse uma vez, observar a Terra do espaço me fez entender que temos uma responsabilidade compartilhada. Não se trata apenas de Brasil ou qualquer outro país; trata-se do planeta como um todo.

A UNIDO tem metas claras e necessárias: redução da pobreza através de atividades produtivas, construção da capacidade de comércio e foco em energia e meio ambiente. Todos pontos chave para qualquer sociedade que almeje um desenvolvimento verdadeiramente sustentável. Acredito que ninguém pode criticar se não tiver pele no jogo. Aceitei, portanto, essa missão não como um título, mas como um chamado à ação.

Estou ao lado de outras personalidades notáveis, cada uma com suas próprias esferas de influência, e juntos podemos, de fato, realizar algo significativo. Não sou e nunca serei o “salvador da pátria”, mas se cada um de nós fizer sua parte, quem sabe onde podemos chegar?

Em resumo, minha nomeação em 2011 foi mais um passo na minha jornada, uma extensão do meu compromisso não apenas com a ciência e a educação, mas com o futuro da nossa sociedade. Não é uma tarefa para os fracos de coração, mas, como diria um velho ditado: “quem disse que seria fácil?”

EMBAIXADOR DO ENSINO PROFISSIONALIZANTE: WORLD SKILLS INTERNATIONAL

“WORLD SKILLS INTERNATIONAL AMBASSADOR”
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Em 2008, quando fui selecionado como embaixador do ensino profissionalizante pela WorldSkills, minha reação foi um misto de surpresa, honra e, como sempre, o senso de responsabilidade que carrego comigo. Alguns podem indagar: “Um astronauta falando sobre ensino profissionalizante? Como isso se encaixa?”. Pois bem, eu digo: tudo está interconectado, especialmente quando se trata de educação e formação profissional.

Eu sempre fui um defensor do poder transformador da educação. Não estou falando só de diplomas universitários, mas de habilidades práticas, de “saber fazer”. Esse tipo de conhecimento é a base de qualquer nação próspera. Acredito, e isso vem desde minha formação em engenharia e minha carreira na Força Aérea Brasileira, que as habilidades práticas e técnicas são a espinha dorsal de qualquer sociedade que aspira ao progresso.

Ser nomeado embaixador da WorldSkills foi, para mim, uma extensão natural do meu trabalho e da minha filosofia de vida. A organização atinge dois terços da população mundial, fazendo uma diferença mensurável em nível global. Isso não é pouca coisa. Estamos falando de construir a autoconfiança de milhões de jovens, empoderar comunidades e impulsionar economias. Se isso não é um chamado à ação, eu não sei o que é.

Além disso, o papel de um embaixador da WorldSkills vai além do cerimonial. Fui convidado para eventos chave, reuniões e atividades onde pude compartilhar minha experiência e, mais importante, minha paixão por habilidades. Afinal, se você quer criticar o sistema, tem que estar disposto a fazer algo a respeito. É aí que eu entro.

Minha trajetória não foi fácil. De São Paulo ao espaço, foi uma jornada que exigiu não apenas formação acadêmica, mas habilidades práticas. Habilidade para operar equipamentos complexos, para solucionar problemas em tempo real e para se adaptar a ambientes extremos. Essas são as competências que me trouxeram até aqui e as mesmas que quero ver disseminadas entre nossos jovens. Acredito que essas habilidades têm um valor inestimável e podem, sim, mudar o mundo.
Em suma, minha nomeação como embaixador da WorldSkills em 2008 foi mais do que um título; foi um manifesto para o tipo de educação que eu quero ver dominar o cenário global. Não estamos falando apenas de formar trabalhadores; estamos falando de formar cidadãos capacitados, conscientes e preparados para os desafios do século 21. Estamos falando de um movimento de mudança, e eu não poderia estar mais orgulhoso em fazer parte dele.

MINISTRO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA, INOVAÇÕES E COMUNICAÇÕES

Depois de ter ido literalmente às estrelas, fui convidado para uma missão não menos desafiadora: liderar o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) do Brasil, a convite do presidente Jair Messias Bolsonaro. Assumi o cargo com um sentimento profundo de responsabilidade e entusiasmo, ciente do papel crucial que a ciência e a tecnologia desempenham na vida moderna e no futuro de uma nação.

Como Ministro, me propus a criar políticas públicas para promover o desenvolvimento científico e tecnológico do nosso país. Trabalhei para garantir que o Brasil estivesse na vanguarda das inovações tecnológicas, focando em áreas-chave como inteligência artificial, nanotecnologia, biotecnologia, entre outras.

Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERS

Tive a oportunidade de liderar uma equipe dedicada de profissionais e especialistas, trabalhando juntos para tornar a ciência, a tecnologia e a inovação pilares do desenvolvimento do Brasil. Implementamos programas para estimular a pesquisa e o desenvolvimento, e também para facilitar a aplicação dos avanços científicos e tecnológicos na indústria e no setor de serviços.

Também dei especial atenção à educação em ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), pois acredito firmemente que a próxima geração de brasileiros deve estar bem preparada para enfrentar os desafios e oportunidades de uma economia cada vez mais digital e baseada no conhecimento.

Foi um trabalho exigente e, muitas vezes, desafiador, mas acredito que conseguimos fazer avanços significativos. Tenho orgulho de ter servido ao meu país nesta capacidade e sinto-me honrado por ter contribuído para o avanço da ciência, da tecnologia e da inovação no Brasil.

Art. 4º O Planejamento Estratégico do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações – MCTI é constituído pelos seguintes componentes:

I – Missão: produzir conhecimento, produzir riqueza para o Brasil e contribuir para a qualidade de vida dos brasileiros;

II – Visão: ser protagonista do desenvolvimento sustentável do país por meio da ciência, da tecnologia e da inovação;

III – Valores: ética, transparência, conhecimento, integração, efetividade, compaixão, valorização das pessoas, responsabilidade socioambiental e inovação;

Ao assumir a responsabilidade como Ministro de Estado do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), e posteriormente do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), sabia que estava embarcando em uma missão de fundamental importância para o futuro do Brasil. Como astronauta, estou acostumado a explorar o desconhecido e enfrentar desafios. Essa experiência me preparou para liderar o MCTI em uma jornada de transformação e crescimento.

Durante minha gestão, trabalhamos arduamente para conectar, inovar e inspirar. Nossos esforços se refletiram em uma série de programas, acordos e projetos que atingiram todos os cantos do Brasil, do Nordeste remoto à Antártica distante.

Em Comunicações, investimos em infraestrutura e tecnologia de ponta, promovendo a conectividade e colocando o Brasil na vanguarda da transformação digital. Com o Programa MCTIC Conecta Brasil e a implantação do Cabo Bella, avançamos significativamente na conexão do nosso país.

 

Em Ciência, Tecnologia e Inovações, o avanço foi monumental. A aprovação do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas e a criação de projetos inovadores como o AmazonFace e o Programa Regenera Brasil são apenas alguns exemplos de como o Brasil está se posicionando como líder global em ciência e inovação.

Os resultados listados nas seções a seguir são um testemunho da determinação, criatividade e paixão da nossa equipe e dos muitos colaboradores em todo o país. Estou orgulhoso do que alcançamos e confiante de que esses alicerces continuarão a sustentar o progresso do Brasil nas décadas vindouras.

Obras publicadas
de autoria de Marcos Pontes

Missão Cumprida ↓

A trajetória de um brasileiro que nasceu em uma família humilde, acalentou um ideal “impossível”, acreditou, trabalhou, persistiu, superou desafios, fez muito mais do que esperavam dele e tornou-se o primeiro astronauta profissional do país.

 

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É Possível! ↓

Nesse livro, o astronauta Marcos Pontes usará toda a sua experiência de vida como engenheiro e coach de desenvolvimento pessoal para ajudar você a realizar seus sonhos. 

 

 

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O Menino do Espaço ↓

Este livro traz a inspiradora história de vida do Primeiro Astronauta Brasileiro, o professor Marcos Pontes, contada de forma divertida e inteligente em 64 páginas ilustradas pelo próprio astronauta.

 

 

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Caminhando com Gagarin ↓

 


Neste livro, o Astronauta Brasileiro compartilha com os leitores sua privacidade, seus pensamentos e emoções enquanto treinava na Cidade das Estrelas na Rússia e durante o seu voo espacial. O livro, ricamente ilustrado com fotos coloridas, é uma coletânea selecionada de textos extraídos diretamente do seu diário pessoal.

 

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