Senador Astronauta Marcos Pontes: “Brasil pode sofrer nova sanção dos EUA”

Para o parlamentar do PL-SP, integrante da missão que foi a Washington negociar o tarifaço, Trump pode aumentar o nível de retaliação por causa de projeto que pune países que negociam com a Rússia

Integrante da missão parlamentar que esteve nos Estados Unidos para tentar suspender o tarifaço de Donald Trump, o senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) alerta para os riscos da condução da política externa pelo governo Lula. Para ele, o Palácio do Planalto tem adotado uma postura antiamericana “descolada da realidade internacional”, o que teria motivado a imposição de uma tarifa de 50% aos produtos brasileiros exportadores para os EUA — que vigora a partir de hoje. Vice-presidente do Grupo Brasil-Estados Unidos no Congresso, Pontes afirma que a pressão norte-americana deve aumentar, nos próximos meses, devido ao projeto que tramita no Capitólio, que pode permitir a Trump impor tarifas de até 500% aos países que importam óleo diesel ou fertilizantes da Rússia, como é o caso do Brasil. A seguir, a entrevista que concedeu ao Correio.

Qual é a avaliação que o senhor faz da missão a Washington, apesar da entrada em vigor do tarifaço?

Conseguimos excluir mais de 700 produtos da lista inicial, o que representa um resultado extremamente positivo. As conversas foram abertas com interlocutores estratégicos, que reconheceram o impacto negativo da medida para ambos os países. Mostramos, com números, como essa taxação prejudica a indústria brasileira, mas, também, afeta empregos nos Estados Unidos. Essa sensibilização foi fundamental para a retirada desses produtos e para a abertura de canais de negociação mais aprofundados.

Houve atraso ou falha na resposta do governo brasileiro à ameaça norte-americana?

Faltou percepção e agilidade diplomática. Existiam sinais claros da intenção dos Estados Unidos e era necessário enviar representantes de alto nível para antecipar a negociação e minimizar os danos. A demora em reagir deixou o Brasil em uma posição de vulnerabilidade, o que facilitou a inclusão do país na lista das tarifas.

Como o alinhamento do Brasil com países vistos pelos EUA como ameaças pode ter influenciado a decisão de Trump?

Os EUA estão claramente pressionando países que mantêm relações próximas com seus adversários estratégicos, como Rússia e Irã. A mensagem dos EUA é clara: ou vocês se alinham conosco ou enfrentam consequências. A importação de diesel russo, por exemplo, é vista como uma provocação e tem servido de justificativa para o endurecimento das medidas comerciais contra o Brasil.

Existe risco de novas sanções ao Brasil?

O risco é real e está diretamente ligado a um projeto de lei, que tramita no Congresso norte-americano, para punir países que mantêm comércio com a Rússia. Se aprovado, pode impor tarifas ainda mais severas, que podem chegar a 500%. O Brasil precisa estar atento a esse cenário, pois qualquer avanço dessas sanções pode agravar ainda mais a situação comercial e econômica do país.

De que forma a política interna brasileira influencia as negociações comerciais com os EUA?

As questões políticas, como as investigações e medidas judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, têm sido objeto de atenção por parte dos EUA, principalmente pelo presidente Trump, que se posiciona em defesa dele. Contudo, são tratadas separadamente da disputa comercial, que é movida por interesses econômicos e estratégicos, e não necessariamente pelo conflito político interno brasileiro.

Quais são os riscos e benefícios da adoção de medidas de reciprocidade contra os EUA?

Adotar retaliações ou medidas de reciprocidade não é uma estratégia eficaz neste momento. Isso tende a fechar os canais de diálogo e dificultar avanços nas negociações. O mais adequado é demonstrar o erro da tarifa americana, apresentar dados e argumentos sólidos, e trabalhar para reduzir as tarifas gradativamente por meio de diálogo e negociação.

Quais são os próximos passos para as negociações com os EUA?

Entramos em uma fase mais detalhada, com negociações setoriais para identificar quais segmentos são mais prejudicados e onde a pressão norte-americana pode ser maior. O setor privado brasileiro também está mobilizado para dialogar com seus pares norte-americanos e mostrar os impactos. A ideia é ampliar as exceções e buscar redução gradual das tarifas, além de melhorar a interlocução política para que o Brasil não seja isolado no comércio internacional.

Fonte Correio Braziliense

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